quarta-feira, 26 de março de 2014

Defeitos #1

Tenho um grande defeito. Detesto confronto directo com alguém. Sou aquela pessoa que prefere perder a oportunidade mas ficar calada, que diz o que tem a dizer se for uma conversa normal e banal, mas quando a coisa já foge para acusações, já lhe custa um bocadinho retribuir na mesma moeda, mesmo que tenha todas as razões do mundo para isso. Não gosto de melindrar ninguém, não gosto e pronto.
Ora para este ano de 2014 foi uma coisa que pus na ideia que tinha de mudar. Mas não tem sido fácil. O facto de trabalhar sozinha, não me permite desenvolver um discurso com argumentos, passo mais tempo calada do que a ensaiar discursos e depois isto reflecte-se quando tenho de fazer valer as minhas opiniões noutros aspectos da minha vida, sendo que muitas vezes dou por mim a pensar que até um miúdo com cinco anos se safa melhor que eu. É que isto de manter a nossa postura firme e inalterada é do catano e custa. Dou por mim a pensar "que se lixe, os outros também não se coíbem de me dizer tudo o que acham, porque é que eu tenho de ter filtro??" e é uma luta interior travada todos os dias, senhores... todos os dias.
Mas ontem foi um grande passo... Ontem consegui fazer valer o meu ponto de vista, numa sala com dezasseis pessoas (não são muitas, mas baby steps...), quando estávamos a fazer a avaliação de uma actividade. Consegui perceber na cara de cada um que não estavam a espera que aqui a menina-que-nunca-abre-a-boca-para-nada falasse e expusesse um contra-argumento digno de levantar os braços ao senhor, ainda que com a voz muito tremida, que nestas coisas ainda não consigo ter a firmeza na voz de quem está a falar com confiança, embora estivesse. Diz a minha mãe que parecia que eu ia desatar a chorar desalmadamente a qualquer momento, embora eu estivesse segura de que apetecia-me tudo menos chorar. Apetecia-me esbofetear quem não mexeu uma palha e ainda criticou. Apetecia-me pontapear quem falou em ajudas externas a actividade que não eram permitidas, mas que quem precisou das mesmas ajudas foram eles. Apetecia-me e passou-me pela cabeça muitos pensamentos maus, mas não é isso que os Escuteiros ensinam, e sendo eu escuteira a 18 anos, achei que não seria esse o melhor caminho. (pasmem-se que afinal nos escuteiros não aprendemos só a andar alegres de mãos dadas a cantar e acampar).
Durante o regresso a casa deu-me vontade de me bater a mim própria, porque devia ter dito ainda mais, que o discurso não flui naturalmente na minha cabeça, que aquelas pessoas me toldam as ideias, que fui incapaz de me lembrar de mais coisas para dizer (e se as havia... e se as havia), que os tópicos que eu tinha programado para levar, deviam mesmo ter sido feitos mas que por falta de tempo ficaram na cabeça e toda a gente sabe que quando estamos irritados e com o coração a mil que não nos lembramos de metade das coisas, embora tenha dito o essencial, para mim foi pouco comparando com o que me fui lembrando depois.
De modos que é isto...
E truques para aprender a não ter "medo" de melindrar quem quer que seja?? Truques para eliminar metade dos filtros que tenho? Truques para um discurso assertivo, eficaz e confiante sem esquecer metade das coisas?? Alguém???

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