sexta-feira, 10 de abril de 2015

Aos (infelizmente) Desempregados!

Pois que em Portugal parece que há uma nova categoria profissional. Os desempregados. É uma categoria em ascensão, que alberga cada vez mais profissionais com e sem experiência e eu, infelizmente, faço parte desta categoria.

Requisitos:
- com ou sem experiência
- simpatia (porque não nos podemos revoltar nem queixar, afinal quem trabalha está a descontar para nos pagar a esmola que recebemos  chamado subsidio de desemprego... obrigada, obrigada, obrigada a quem trabalha... já disse obrigada?)
- persistência (como diz o meu irmão - insiste, persiste e não desiste)
- fluência oral e escrita (para sermos escolhidos para alguma coisa é preciso termos parlapiê)
- diponibilidade total (toda a gente sabe que os desempregados não fazem nada, por isso podem ficar para ultimo nas filas, não reclamar, afinal de contas temos todo um dia de ronha pela frente)

Oferta:
- Esmola - subsidio de desemprego (obrigada pessoal que trabalha, sim??)
- Olhares de pena e comiseração
- esperança... muita esperança... principalmente daquelas pessoas que têm empregos estáveis, mas nãos e cansam de vos incentivar a fazer assim e assado, mas no fundo não fariam nem metade do que vocês já fazem.

Se há dias em que as coisas até se levam bem, em que nos levantamos de manhã e pensamos, pode ser hoje o nosso dia, outros há em que não nos resta uma esperançazinha... nada... rien de rien!
Hoje é um desses.

Levanto-me todos os dias as sete e meia, mesmo desempregada gosto de não dar o tempo por perdido e embora adore ficar na ronha na cama, sei que se o fizer um dia que me vou habituar e desleixar, pelo que prefiro fazer o esforço de me levantar cedinho. Vou levar o meu irmão a escola e venho para a loja com a minha mãe, ajudo no atendimento aos clientes (cada vez menos diga-se), ligo o computador portátil e começa a minha saga. Varro a pente fino os sites de ofertas de emprego, olx incluído (curiosamente todas as chamadas que recebi de volta acerca de entrevistas foram Curricula enviados por lá). Muitas das ofertas já nem as abro porque já as consultei, já enviei os dados, e não há assim tanta oferta nova todos os dias.
Ah e então porque não vais aos locais pessoalmente entregar? Pois quando posso vou, quando me fica a caminho também vou. Já cheguei inclusive a fazer uma viagem de duzentos km só para entregar o Curriculum em mão. Deu em alguma coisa?? errrr... não. Quer dizer, deu... gastei gasóleo, gastei dinheiro em alimentação e em dois minutos estava despachadinha, mas pelo menos fiquei a conhecer paisagens que não tinha visto antes!
Então é porque procuras só na tua área de formação! Pois... também não. Procuro em tudo, basicamente.
A arqueologia em Portugal está pela hora da morte. Ordenados baixos, de recibos verdes, onde uma grande parte vai para o estado e outra para as deslocações e sempre, sempre só para aquele grupo restrito de pessoas e amigos. Quem não fez o favor de lamber botas a ninguém na faculdade, como foi o meu caso, tem de se destacar muito para conseguir qualquer coisinha, mesmo que seja voluntariamente. Também se dá o caso de haver quem consiga bolsas de estudo nas faculdades para continuar a colaborar no departamento de investigação, mas não vou referir o tipo de favores que são precisos para chegar a isso, porque isto ainda é um blog decente.

Toda esta experiência que se adquire como desempregados leva-nos a perceber que este país não nos oferece condições de vida dignas. As ofertas de emprego são cada vez mais duvidosas, geralmente por comissões (ninguém se alimenta de comissões, por amor de Deus) para as quais não tenho a mínima aptidão. Quando não são comissões são estágios, E uma pessoa fica sem saber o que fazer. Ah o empreendedorismo é que está a dar. O tanas... o tanas é que está a dar. E aquelas ofertas em que nem sabemos o que querem dizer? com nomes estrangeiros e o raio? que soam todos a cargos muito importantes e vai-se a ver e é para andar a vender de porta a porta (nada contra quem tem esta aptidão... eu não tenho, e dá-me instintos assassinos cada vez que me tocam a campainha as dez da noite).

E pronto... é isto que passa um desempregado. E não... lamento, mas não sou aquele desempregado que toma o pequeno almoço na pastelaria e que passa as restantes horas do dia a ver o Goucha e a Fátima Lopes, não esquecendo as maratonas de horas seguidas no café!
Tenho esperança que o governo um dia profissionalize os desempregados. E nessa altura, pelo andar da carruagem, teremos vantagem em anos de experiência!

Sem comentários: